O câncer de pulmão continua sendo o maior responsável pela mortalidade por câncer, com a estimativa de 350 mortes por dia, é o que diz o estudo da SOPTERJ (Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro).
Diante desses dados preocupantes, acendemos o alerta da importância das campanhas de prevenção e conscientização. Por isso, neste mês de agosto, as ações dos órgãos de saúde estarão voltadas para o câncer de pulmão.
O Agosto Branco é o momento para entender mais sobre essa doença como, por exemplo, seu desenvolvimento, riscos, tratamento, prevenções, entre outros aspectos.
Para falar sobre o assunto, conversamos com a médica e cirurgiã oncológica da Uopeccan, Mariana Tais Ferreira. Confira abaixo, tudo sobre o câncer de pulmão:
Doutora, o que é o câncer de pulmão?
O câncer de pulmão é um tumor que começa no tecido pulmonar, geralmente, na parte que recobre os brônquios, onde há o maior contato com os agentes carcinogênicos externos.
Quais são os tipos de câncer de pulmão?
São vários tipos de câncer, mas estes quatros são os mais comuns:
Adenocarcinoma: o tipo mais comum em pacientes que não fumam, não quer dizer que só vai acometer essas pessoas, quem fuma também, mas para quem não fuma, esse é o principal.
Lembrando que o tabagismo não precisa ser só “eu fumando”, mas se você mora ou trabalha com alguém que fuma, será um tabagista passivo e isso aumenta o risco de ter câncer de pulmão;
Carcinomas Epidermóides: ocorre mais na região central do pulmão e as vezes os sintomas são confundidos com tuberculose, então temos que ficar atentos;
Tumores de pequenas células: são um tipo de tumor neuroendócrino;
Carcinomas de grandes células.
Quais são as causas para o desenvolvimento dessa doença?
85% dos tumores são por causa do tabagismo ativo ou passivo, então mesmo que a pessoa pare de fumar, ela ainda terá alterações que o cigarro causou em seu pulmão e que no futuro, poderá evoluir para um câncer.
Além disso, existem fatores ambientes como a poluição. Um exemplo é a China, onde o índice de poluição é muito alto e tem se observado que mulheres que não fumam, estão tendo câncer de pulmão, logo, podemos relacionar a isso.
Também tem questões laborais, por exemplo, poeira de madeira, de construção, amianto, asbestos, arsênico, quem trabalha em mineração, com metais pesados e carvoarias, também tem risco aumentado de câncer de pulmão.
Quais são os primeiros sintomas?
O câncer de pulmão, assim como os outros canceres, não tem sintomas no início. Os sintomas só aparecem quando a doença já está avançada e podem ser:
Tosse, muitas vezes tosse seca, mas pode sair catarro junto.
Estrias de sangue nesse catarro ou escarrar somente sangue.
Perda de peso, sem ter feito dieta ou ter mudado a atividade física.
Fraqueza;
Falta de ar por esforço ou por esforços cada vez menores, por exemplo, andar dentro de casa ou o ato de tomar banho.
Quais são as formas de prevenção e chances de cura?
A melhor forma de prevenção é evitar o tabagismo. E se você fuma e trabalha em uma área de exposição como, por exemplo, com asbestos (que aumenta em cinco vezes as chances de câncer de pulmão, se o paciente fuma aumenta para 50 vezes), as duas condições podem potencializar e aumentar ainda mais os riscos de ter câncer de pulmão.
Então, se possível evitar trabalhar com esses produtos químicos, mas em casos de necessidade, o mais importante é usar os equipamentos de proteção individual como máscara e roupas adequadas.
Quais são as formas de tratamento?
O câncer de pulmão se for descoberto pequeno (localizado), é feito uma cirurgia, que seria a ressecção desse segmento do pulmão onde tem o câncer e pode ser necessário também ressecar as ínguas que ficam, geralmente, na região central, que chamamos de mediastino (uma das três cavidades que compõem a caixa torácica), fazer uma linfadenectomia.
Ou então, tumores mais avançados, podem precisar fazer radioterapia, que pode ser combinada ou não com quimioterapia. Cada caso é estudado para que assim, seja escolhido o tratamento mais eficaz para o paciente.
Cigarros eletrônicos e narguilés: quais os riscos?
Em relação ao narguilé, ele é pior que fumar cigarro, porque a pessoa fica horas inalando aquela fumaça e, quase sempre, se compartilha aquele bucal/mangueira com outros amigos. Além do risco de covid e gripe, pode passar hepatites, então não é recomendado fumar e nem compartilhar.
O narguilé vai aumentar ainda mais os riscos de câncer, se o indivíduo fuma no fim de semana, dependendo do tempo, é pior do que se fumasse uma carteira todos os dias. Então, o ideal é não fumar nada.
Em relação aos cigarros eletrônicos, para falar de câncer de pulmão, estudos mostram que entre começar a fumar e até chegar no câncer, levam até 20 anos, em média.
Então como os cigarros eletrônicos são de agora, não temos dados estatísticos para comprovar que esses adolescentes que começaram fumando cigarro eletrônico tiveram câncer de pulmão por causa dele.
Mas sabemos que nesses cigarros tem nicotina, aldeído, tem outros álcoois e metais pesados, que já foram comprovados que esses produtos causam câncer de pulmão.
Então a gente espera, que lá na frente, a maior parte dos adolescentes que estão fumando cigarro eletrônico, terão riscos maiores que outros adolescentes que nunca fumaram, de desenvolverem câncer de pulmão.
Provavelmente, teremos um problema de saúde pública no futuro com esse número de pessoas com câncer de pulmão. Que vão requerer tratamento e terão que se afastar das atividades laborais, muitas vezes para tratar.
Doutora, o câncer de pulmão é o que mais mata atualmente, como pode transformar essa realidade?
Em 2018, a OMS (Organização Mundial da Saúde), criou um protocolo para tratar o câncer de pulmão, porque ele é a principal causa de morte por câncer no mundo, ou seja, não é só no Brasil, mas no mundo inteiro.
Inclusive, em alguns países como os Estados Unidos, o câncer de pulmão já está ultrapassando o câncer de mama em mulheres, como a principal causa de morte.
Então para mudar isso, as recomendações são:
Não fumar;
Não fumar em ambientes fechados, para preservar as pessoas que não fumam do tabagismo passivo;
Procurar e ou receber orientação sobre o tabagismo e sobre os riscos;
Incentivar a não fumar;
Acolhimento dos pacientes que fumam pelo sistema de saúde, por programas antitabagismo;
Fazer um rastreamento adequado desse paciente que seria exames, mesmo sem ter sintomas, para ver se já tem algum nódulo ou lesão suspeita para encaminhar para o tratamento mais precocemente;
Ao ter o desejo de parar de fumar, encontrar o incentivo e apoio, pois sabemos que não é fácil, mas com um grupo de apoio e de acolhimento é possível;
Se mais de um membro da família fuma, é importante que todos parem, não apenas uma pessoa.
Alguns países já implementaram essas medidas, mas com a pandemia, provavelmente, elas não conseguiram ser tão efetivas nos últimos anos. Porém, por ter começado em 2018, já foi observado que alguns países tiveram redução bem importante da incidência de câncer de pulmão.